Cross docking é uma modalidade logística cujo objetivo é reduzir os estoques e, consequentemente, diminuir os valores perdidos em mercadorias. Pouco a pouco, lojas como Mobly, Walmart, Americanas e Submarino aderem à ideia dos marketplaces e praticam cross docking em diferentes escalas.
Em um levantamento feito pela Neogrid, empresa especializada em soluções para gestão de Supply Chain, estima-se que o setor de varejo perca R$ 9,6 bilhões com itens que não são vendidos. Destes, cerca de R$ 6,7 bilhões são causados por erros na gestão de estoque. Entre outros fatores, é por isso que grandes empresas de varejo têm recorrido cada vez mais ao cross docking.
O QUE É CROSS DOCKING
No sentido literal, o significado de cross docking é “cruzando as docas”, termo que se originou do processo seguinte ao descarregamento das mercadorias transportadas por navios, no qual depois de serem depositadas em galpões, eram movimentadas por esteiras diretamente para caminhões posicionados estrategicamente por região.
No e-commerce, cross docking é uma técnica logística que deriva do sistema de administração just in time. Tal conceito parte do pressuposto de que matérias-primas e produtos devem estar disponíveis em estoque a partir do momento em que forem necessários.
Sendo assim, para o conceito, não há necessidade de armazenar uma grande quantidade de produtos se estes não foram solicitados pelo cliente. Isso reduz o custo de operação de estoque, diminui o CMV e, quando bem empregado, pode aumentar a eficiência logística da empresa.
Para um sistema de fato ser denominado como cross docking é preciso que:
- O tempo de permanência da mercadoria nas dependências do parceiro logístico seja mínimo. Esse tempo pode variar de no mínimo um dia e no máximo três, dependendo do modelo do serviço contratado. Caso o tempo de armazenamento exceda o prazo máximo, pode ser cobrada uma taxa de estocagem, o que acaba prejudicando o propósito inicial (o de não arcar com custo de armazenamento).
- Assim que o produto estiver disponível e for entregue ao centro de distribuição (que pode ser terceirizado ou próprio), ele deve ser imediatamente encaminhado ao cliente final.
- É necessário ter um sistema integrado para acompanhar e gerenciar trocas e informações da melhor maneira possível. A comunicação precisa entre todos os participantes é indispensável.
CROSS DOCKING: COMO FUNCIONA
Aplicando o conceito de cross docking à prática, podemos tirar como exemplo o sucesso da parceria entre Americanas e Netshoes. Em 2008, antes de ser um e-commerce, a Netshoes tornou-se fornecedora exclusiva dos calçados da Americanas. Veja como funcionava o fluxo do sistema cross docking entre elas:
- Pedido: cada vez que um cliente fazia o pedido de um calçado nas Lojas Americanas, um sistema de back office integrado consultava o estoque da Netshoes e fechava o pedido após a confirmação de pagamento.
- Envio ao CD: feito isso, a Netshoes faturava e enviava os produtos para o centro de distribuição das Lojas Americanas, que tratava de enviá-lo ao consumidor com sua própria etiqueta.
- Distribuição: no centro de distribuição, as Lojas Americanas faziam a otimização logística dos pedidos. Em um lado do armazém, o fornecedor entrega os seus produtos. Internamente, os itens são separados de acordo com o endereço de expedição e os veículos de entrega são carregados.
- Otimização: ao invés de enviar um só veículo para distribuir uma categoria de produtos (apenas calçados) em diversos endereços, o cross docking redistribui a carga de diferentes fornecedores com Full Truck Load (FTL) para otimizar as entregas de diferentes produtos em determinada região.
Full Truckload Load (FTL), “caminhão cheio” numa tradução livre, é o tipo de carga homogênea, que geralmente opera com volume suficiente para preencher completamente uma caçamba ou o baú de um caminhão.
BENEFÍCIOS DO CROSS DOCKING
O principal benefício do cross docking é a redução do manuseio de produtos e a possibilidade que a empresa tem de trabalhar com estoques reduzidos ou nulos, provenientes apenas de fornecedores. Conheça a seguir os benefícios de implementar um sistema de cross docking na sua empresa:
- Menos tempo: pelo fato de a carga ser despachada no centro de distribuição pelo fornecedor e transferida diretamente ao veículo que fará a entrega ao cliente, o tempo de entrega do pedido é reduzido.
- Menor custo logístico: o produto não chega a virar estoque da empresa, mas sim inventário (quando o produto não chega a passar pelo estoque). Além de reduzir os custos nos processos de manuseio, as despesas com o transporte das encomendas são reduzidas porque a carga de todos os fornecedores é aglomerada e sua distribuição é otimizada para atender uma região específica. Os veículos saem do armazém com carga completa (Full Truck Load) e com rotas de entrega otimizadas.
- Redução do lead time: lead time é o tempo que o pedido leva desde o pagamento até a entrega para o cliente final. Por dispensarem a armazenagem em estoque, as empresas que adotam cross docking conseguem reduzir esse indicador.
- Redução do capital de giro: o lojista não precisa adquirir os produtos para vender posteriormente. Em um sistema de cross docking e com a aplicação das premissas just in time, os produtos só são pedidos quando são adquiridos, o que reduz o capital de giro.
- Estoque zero: você não terá que arcar com prejuízos como o de solicitar uma grande quantidade de produtos ao fornecedor e, no fim, esses produtos não serem vendidos e só gerarem despesas contínuas enquanto estiverem estocados. Também não terá que se preocupar com a falta de produto ou ter que fazer previsões de demanda.
- Cliente satisfeito: em um mercado extremamente competitivo, um processo que possibilite a entrega mais rápida do produto ao cliente final certamente o deixará mais satisfeito e inclinado a comprar novamente na sua loja.
COMO IMPLEMENTAR CROSS DOCKING
Alguns e-commerces podem trabalhar com essa modalidade sem que saibam precisamente o que significa cross docking. Basicamente, se o produto sai da sua loja e é encaminhado para empacotamento e etiquetagem no marketplace onde você efetua as suas vendas, então a sua loja faz cross docking, mas sob a perspectiva de fornecedor. Implementar esse serviço na sua loja depende única e exclusivamente dos seus canais de venda.
Já nos armazéns e centros de distribuição dos varejistas, o investimento inicial para implementar um sistema de cross docking é relativamente alto, se comparado com outras técnicas logísticas praticadas em grandes centros de distribuição. Porém, a longo prazo, o ROI (retorno sobre o investimento) é percebido quando os riscos de implementação da técnica são minimizados.
Conheça abaixo o fluxo indicado para implementação de cross docking em grandes centros logísticos:
- Formação de uma equipe de operações multidisciplinar para lidar com diferentes fornecedores e fazer a separação das cargas entre diferentes transportadoras ou veículos da frota.
- Levantamento de hipóteses e consequências da mudança e construção de cenários fictícios a respeito do que aconteceria com as operações a partir das mudanças.
- Projeto piloto com alguns fornecedores para ajuste às demandas, validação das hipóteses levantadas na etapa anterior e levantamento de novas hipóteses no ambiente prático.
- Testes das mudanças a serem realizadas e implementação dos novos processos.
- Implementação efetiva do cross docking.
- Revisão periódica da operação.
CROSS DOCKING VS. DROPSHIPPING
É importante distinguir os conceitos de dropshipping e cross docking. No primeiro caso, os pedidos da loja são enviados pelo fornecedor, que trata de enviar os produtos diretamente ao cliente. O proprietário da plataforma não interfere no processo e os produtos não passam por armazéns do varejista.
É o caso de alguns produtos da Dafiti, que disponibiliza o espaço e a forma de pagamento em seu marketplace. As encomendas vão do anunciante para o comprador, sem intermediários. No exemplo abaixo, repare que o calçado é vendido e entregue pelo fornecedor Toda Musa:
Já os sistemas de cross docking operam de forma diferente porque de fato há um armazém ou estoque intermediário no processo, mesmo que por um curto período. O armazém serve para eventualmente empacotar, etiquetar e fazer a distribuição logística dos produtos entre as diferentes transportadoras ou veículos da frota.
Fonte: adaptado do site “Mandae” (https://goo.gl/qnd6JM)